Estudo estima ganhos de políticas focadas em evitar mortes não naturais
Qual seria o ganho na esperança ou expectativa de vida se fossem reduzidas as mortes por “causas externas”, ou seja, os óbitos resultantes de acidentes, homicídios, afogamentos, envenenamentos ou outros do gênero? Estudo de pesquisadoras vinculadas ao Núcleo Norte Fluminense do Observatório das Metrópoles, referente aos municípios produtores de petróleo no trecho fluminense da Bacia de Campos no período 2015-2019, aponta que se essas mortes não naturais pudessem ser completamente evitadas a esperança de vida teria um aumento de dois anos e meio a dois anos e sete meses.
O levantamento se debruçou sobre três aglomerados populacionais. No de Cabo Frio (que inclui Armação dos Búzios e Arraial do Cabo), a expectativa de vida aumentaria em mais de dois anos e oito meses. Nos aglomerados de Campos dos Goytacazes (que engloba São João da Barra) e de Macaé-Rio das Ostras (que abrange Carapebus, Casimiro de Abreu e Quissamã), o ganho seria de dois anos e meio. A pesquisa está relatada na dissertação de mestrado em Políticas Sociais de Mayara Xavier Moraes, defendida na UENF sob orientação da professora Joseane de Souza, do Laboratório de Gestão e Políticas Públicas (LGPP) do Centro de Ciências do Homem (CCH/UENF).
Esses ganhos na expectativa de vida seriam ainda mais significativos se fosse considerada apenas a população masculina. No aglomerado de Cabo Rio, os homens viveriam em média quatro anos e três meses a mais se não houvesse as chamadas mortes por causas externas. No aglomerado de Campos seriam mais quatro anos, e no de Macaé, três anos e nove meses.
Com relação às mulheres, chamou a atenção das pesquisadoras um aumento ao longo da década, no arranjo populacional de Cabo Frio, dos óbitos causados por eventos cuja intenção é indeterminada. Aí se enquadram casos de morte de mulheres por enforcamento, estrangulamento, afogamento, disparo de arma de fogo, envenenamento, queda e outros em que não ficou demonstrada a intenção de matar.
— Esses resultados podem estar indicando um aumento do feminicídio nesse arranjo, entre o primeiro e segundo quinquênios estudados, o que requer estudos mais específicos e a eventual adoção ou reforço de políticas públicas apropriadas — indica Mayara Moraes.
Joseane é pesquisadora, e Mayara é pesquisadora assistente do Núcleo Norte Fluminense da rede Observatório das Metrópoles, constituída conforme o programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT) do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). O INCT Observatório das Metrópoles é composto por mais de 400 pesquisadores distribuídos entre 18 núcleos, incluindo capitais como Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador e centros regionais como Baixada Santista, Maringá e Norte Fluminense. O Núcleo NF congrega pesquisadores da UENF, UFF, IFF e UCAM.
O peso do trânsito e dos homicídios na expectativa dos homens
Embora não seja possível simplesmente eliminar as mortes por causas externas, os dados permitem projetar os impactos positivos da adoção de políticas públicas voltadas para a redução de certos tipos de mortes não naturais. Por exemplo, se políticas focadas em acidentes de trânsito e homicídios conseguissem diminuir em 25% as mortes causadas por esses fatores, a esperança de vida entre os homens aumentaria em nove meses e meio no aglomerado de Campos, em oito meses no aglomerado de Macaé e em mais de três meses no aglomerado de Cabo Frio.
Seguindo a média nacional, a esperança de vida dos homens da Bacia de Campos no Rio de Janeiro é sempre menor do que a das mulheres. Computando homens e mulheres e considerando o quinquênio 2015-2019, a esperança de vida ao nascer era de 76 anos e quatro meses no aglomerado de Cabo Frio, de 75 anos e meio no de Macaé e de 73 anos e nove meses no de Campos dos Goytacazes. Os valores ficaram abaixo da média nacional — de 76 anos e meio — nos três aglomerados. Em relação à média estadual, que é de 76 anos, só no aglomerado de Cabo Frio a expectativa foi de uma vida mais longa.
O estudo se deteve sobre períodos anteriores à Covid-19, trazendo, também, dados do período 2010-2014. Impactos da pandemia sobre a mortalidade no estado do Rio de Janeiro estão sendo investigados na pesquisa de doutorado em Políticas Sociais iniciada por Mayara este ano, também sob a orientação de Joseane de Souza.