Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro, à esquerda, com Nilo Lima de Azevedo em evento na UENF.

Um novo chão para se pisar

Em aula inaugural na UENF, Luiz Cesar Queiroz discute atualização de marco teórico para os Estudos Urbanos

Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro, à esquerda, com Nilo Lima de Azevedo em evento na UENF.
Luiz Cesar: novo marco teórico

A construção de um novo marco teórico e a atualização das agendas de pesquisa para os estudos sobre as metrópoles brasileiras foram o tema da aula inaugural do segundo semestre letivo dos programas de pós-graduação em Sociologia Política e em Políticas Sociais da UENF, ministrada nesta quarta, 30/08/23, pelo professor Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro. Coordenador nacional do INCT Observatório das Metrópoles, Luiz Cesar compartilhou pontos que vem amadurecendo na busca por uma visão que enquadre as novas preocupações científicas na área.

Como explicou o professor, já não é possível tomar o processo de industrialização como fundamento dos estudos sobre a urbanização brasileira. Esse paradigma está superado em função das mudanças estruturais ocorridas no Brasil e no mundo. Sem a pretensão de enunciar uma nova agenda, Luiz Cesar se propôs a “arriscar” a exposição e a discussão de ideias ainda em fase de maturação.

Tais ideias partem da noção de que a nova dependência à qual está sujeito o país (não só em questões urbanas) tem uma natureza diferente da que vigorava segundo o padrão industrial. Os pontos salientes da nova realidade são a desindustrialização (a indústria não só perde peso relativo no produto interno bruto, como também deixa de ser o centro estruturador da economia), a reprimarização (volta à ênfase de bens primários na pauta de exportações, ainda que com algum grau de valor agregado) e a perda em autonomia de decisão sobre os destinos do país.

— Precisamos de um novo arcabouço teórico para iluminar essas mudanças e pensar em caminhos de enfrentamento — defendeu.

Essa empreitada, alertou, deve estar atenta aos riscos de se cair no “globalismo urbano” — uma importação acrítica de conceitos formulados em outros contextos nacionais — e da “fenomenologia urbana”, que corresponde a uma visão fragmentada, “desteorizada” e incapaz de desvelar o que produz os problemas visíveis.

A nova dependência seria baseada no rentismo (em que o excedente é extraído sem que o capital esteja diretamente envolvido no processo produtivo, gerando companhias e marcas que terceirizam a produção propriamente dita) e neoextrativismo (que já não extrai apenas recursos naturais, mas também excedentes de economias e populações locais, a exemplo de plataformas como Uber e Ifood).

Em seu esforço intelectual, Luiz Cesar articulou contribuições de diferentes correntes teóricas e propôs a releitura de tradições de pensamento sobre a dependência hoje pouco acionadas. Ao final, o debate trouxe à tona questões como o papel da China nesse novo cenário e as possibilidades de uma inserção menos desvantajosa do Brasil na divisão internacional do trabalho.

 

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